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No dia 12 de abril faleceu o Desembargador aposentado do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª. Região, Dr. ANTONIO MARQUES CAVALCANTE. Conheci o Dr. Cavalcante (como ele preferia ser chamado) quando ainda advogava e teve processos na única Junta de Conciliação e Julgamento de Fortaleza. Depois fez concurso para Juiz, tirando o primeiro lugar no primeiro concurso realizado na 7ª Região da Justiça do Trabalho, sendo nomeado Juiz Substituto.
Na época era Presidente dessa única Junta o Dr. Paulo da Silva Porto. Com a morte do meu irmão Autran Nunes, no final de 1969, em 1970 o Dr. Paulo Porto foi nomeado para a vaga deixada pelo Autran no TRT, e, no mesmo ano o Dr. Cavalcante foi ser o Juiz Presidente da Junta de Conciliação e Julgamento de Fortaleza, em substituição ao Dr. Paulo Porto.
Desde o início da nossa proximidade em razão do trabalho, o Dr. Cavalcante como Presidente da Junta e eu Diretora de Secretaria, passei a admirá-lo pelas atitudes que tomava, quer nas audiências no trato com as partes, quer nas relações com a administração do Tribunal, às vezes pouco lisonjeiras quando se tratava do reconhecimento do imenso trabalho dos servidores da única Junta existente em Fortaleza..
A minha citação de tantas datas, no início, tem uma razão de ser. Na época desses acontecimentos 1970 – estávamos no período mais duro, mais negro, da ditadura militar, quando muitas pessoas eram presas e desapareciam e outras morriam de sofrimento na tortura.
Nos últimos dias de novembro desse ano de 1970, eu fui, pela segunda vez levada de casa, presa por oficiais e soldados do Exército, dessa vez, primeiramente, para o quartel do antigo CPOR e daí para o Quartel do 23º BC, na Av. 13 de Maio.
O Dr. Antonio Marques ao tomar conhecimento da minha prisão e talvez levado pelas notícias dadas pela Mirna, esposa do Dr. Tarcísio Leitão que também estava preso no 23º BC, de que o mesmo estava sendo torturado, foi ao Quartel do 23º falar com o Vice-Comandante e pedir que me preservassem de qualquer tortura. Isto hoje seria apenas um nobre gesto de um amigo, mas naquela época foi um gesto de coragem e de grandeza, visto que era um tempo em que pessoas, para não se comprometer, recusavam até o cumprimento de quem fosse considerado subversivo. E ressalte-se que o Dr. Cavalcante não era homem de esquerda e pelo pouco tempo que tinha de convivência comigo na Junta, desconhecia o motivo da minha prisão.
Enquanto estive presa não tomei conhecimento da sua ida ao Quartel, pois não tinha contato com ninguém e nem recebia visitas, mas notei que, a partir de um determinado dia a comida passou a ser melhor, não sendo mais aquele feijão e arroz, com sobremesa de rapadura, até quando me transferiram para o 10º GO e lá voltaram, novamente, o feijão, o arroz e a rapadura. Mas isto é outra história.
Quero deixar aqui registrado esse nobre e inesquecível gesto e o meu preito de gratidão ao Dr. Cavalcante.
Lamentavelmente não tive oportunidade de explicar-lhe os detalhes da história de um prefácio. Talvez seja eu a única pessoa a ter escrito o prefácio de um livro sem o ter lido. Aconteceu que fui insistentemente instada a escrever o prefácio para um livro que eu não tinha lido, e que somente tinha tomado conhecimento da sua elaboração pouco antes de ele ser impresso. O que eu soube, segundo me era informado, é que o livro contava a História da Justiça do Trabalho no Ceará, apenas isso. Então essa seria a matéria, o assunto do prefácio. O último apelo que recebi, foi através de um telefonema, avisando de que o livro já estava na gráfica e que estava faltando apenas o tal prefácio. Sentei-me frente ao computador e escrevi uma série de pequenos fatos relacionadas com os primeiros tempos da Justiça do Trabalho, mas fui infeliz quando no final declarei que tudo que constava daquele livro era verdadeiro.
Não sabia eu que o livro não narrava apenas a História da Justiça do Trabalho no Ceará, mas que também nele eram emitidos, pela autora, opiniões e conceitos sobre pessoas com os quais eu não concordava, nem endossava. Não sou de magoar nem de ferir ninguém, sem nenhuma razão para isto. Ainda mais tratando-se de pessoas a quem eu devia respeito e gratidão.
Olga Nunes Vice-Presidente do SINDISSÉTIMA
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