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Um verdadeiro abismo ainda separa os juros básicos da economia, estipulado pelo Governo Federal por meio da taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), das taxas cobradas pelas instituições financeiras ao consumidor.
Mesmo com a redução da taxa Selic para 9,25% ao ano, nível mais baixo desde sua criação em 1986, os bancos ainda cobram às pessoas físicas juros que podem chegar 246,24% ao ano.
Principal responsável por esta diferença entre a taxa Selic e os juros cobrados, o spred bancário (diferença entre a Selic e os juros bancários) teve uma redução de somente 2,5% entre janeiro e abril de 2009.
Segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a estimativa é que a taxa de juros tenha caído num percentual de 4,7% neste período, sendo 9,1% para as pessoas físicas e 1,9% para as pessoas jurídicas.
Segundo os especialistas em finanças, a redução nos juros cobrados pelos bancos é insuficiente e ainda não faz uma diferença efetiva no bolso do consumidor brasileiro.
De qualquer forma, já há o que comemorar: a avaliação é que os recentes cortes na taxa básica dos juros não são conjunturais.
E nos próximos anos deverão chegar ao crédito ao consumidor final.
De acordo com Andrew Storfer, diretor de economia e finanças da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o rompimento da barreira dos dois dígitos da taxa Selic representa um ganho para todos os setores da economia.
“É uma medida que beneficia o Governo, que despenderá menos no pagamento dos juros da dívida pública; o consumidor, que ganha com a redução paulatina do spread bancário; e as empresas, que terão acesso a melhores condições de financiamento e empréstimos”, explica ele.
No entanto, o professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Alexandre Sá, ressalta que existem entraves que ainda mantém Brasil com o terceiro maior juro real do mundo.
Ele cita a oferta e procura intensa por crédito como um dos principais fatores que sustentam o spred no patamar atual.
“Mesmo com juros altos, o brasileiro continua tomando crédito na praça e se endividando”, explica.
O empréstimo contingenciado também é considerado um complicador: “Todo banco é obrigado a conceder crédito para setores como a agricultura com taxas subsidiadas. Com isso, quem paga a diferença são os outros tomadores de empréstimo”.
Com os cortes na Selic, a tendência é de ampliação dos prazos de pagamento e redução dos juros cobrados ao consumidor.
Os financiamentos de longo prazo, como o do crédito imobiliário e de bens duráveis, deverão ser os primeiros a sentir os efeitos.
“A compra de veículos, imóveis e o crédito consignado deverão ter uma redução mais significante. Estes são créditos seguros e dão rentabilidade aos bancos”, explica Andrew Storfer, da Anefac.
Já para o consumidor que usa o cheque especial ou toma empréstimos para pagamento num prazo curto, a queda na Selic é insignificante.
“Em que interfere uma queda de um ponto percentual para quem paga mais de 100% de juros ao ano?”, questiona o professor Carlos Alexandre Sá.
Para Carlos Amaral, presidente da Federação do Comércio do estado da Bahia (Fecomércio), o setor deverá ser um dos principais beneficiados com redução da Selic, que deve repercutir nas taxas do crediário e no crédito direto ao consumidor.
“É um estímulo ao setor. Se compararmos com o patamar de alguns anos atrás, é uma redução considerável. Pode não ser o desejável, mas dá mais conforto ao consumidor que compra a prazo”.
De acordo com o professor Alcides Leite, quem sai ganhando é a economia produtiva do País.
“As pessoas que terão mais acesso ao crédito, e empresas, mais recursos disponíveis para fazer negócios”, afirmou.
Fonte: Diap
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