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A deterioração do mercado de trabalho, com alta do desemprego nos setores mais qualificados e o aumento da informalidade, produziram um efeito colateral aparentemente contraditório: a diminuição do número de pobres no País.
Na verdade, com o achatamento da “classe média” e a melhora do salário mínimo, ao lado dos programas assistenciais, houve um nivelamento por baixo do mercado de trabalho brasileiro.
A conclusão é de estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), segundo o qual, apesar da recessão, 503 mil pessoas deixaram a condição de pobreza nas seis principais regiões metropolitanas, mantendo o ritmo que, entre 2002 e 2009, fez com que quatro milhões de brasileiros superassem a miséria.
Entre janeiro (0,514) e junho de 2009, o Ipea detectou também que o índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, caiu 4,1%, a maior queda desde 2002. De março de 2002 (0,534) até junho de 2009, o índice caiu 7,6%.
O próprio presidente do Ipea, Márcio Pochmann, disse que a redução da desigualdade se deu apenas entre os trabalhadores.
E que, além dos aumentos do mínimo e das políticas de transferência de renda, houve deterioração do emprego nos segmentos que pagam mais.
“De um lado, a crise se manifestou de forma mais concentrada no setor industrial, que geralmente paga os melhores salários. De outro, temos a proteção da renda na base da pirâmide social brasileira, com aumento do salário mínimo e políticas de transferência de renda previdenciárias e assistenciais”, afirmou o presidente do Ipea.
Pochmann destacou ainda que a melhora ainda é insuficiente.
“Um índice de Gini acima de 0,4 ainda representaria péssima distribuição de renda. Há uma tendência de queda, mas ainda estamos longe de chegar a algo comparável a países mais avançados”, afirmou.
Diferentemente do que aconteceu nos períodos de crise considerados no estudo – 1982 a 1983; 1989 a 1990; e 1998 a 1999, quando a inflexão econômica implicou aumento da pobreza nas regiões metropolitanas nacionais – não se observou crescimento na taxa de pobreza nem mesmo após o último trimestre de 2008, período em que os efeitos da crise internacional começaram a atingir o País.
Depois de ter aumentado entre agosto de 2002 e abril de 2003, a taxa de pobreza do Brasil metropolitano apresentou tendência de queda.
Em março de 2002, 18,5 milhões de brasileiros estavam em situação de pobreza.
Em junho de 2009 esse número havia baixado para 14,4 milhões.
A diferença, de 4 milhões de pessoas, configura queda de 26,8% da taxa de pobreza, que passou de 42,5% para 31,1% no período.
Entre março de 2002 e junho de 2009, a região metropolitana que registrou maior queda no número de pobres (1,4 milhão) foi a do Rio de Janeiro, seguida por São Paulo (1,3 milhão) e Belo Horizonte (600 mil pessoas).
Recife e de Salvador, que detêm as maiores taxas, retiraram da condição de pobreza 100 mil e 200 mil pessoas, respectivamente.
As regiões metropolitanas que diminuíram mais rapidamente a taxa de pobreza foram Belo Horizonte (35,5%), Porto Alegre (33,6%) e Rio de Janeiro (31,2%).
Quedas menos intensas do que as da média nacional no período (26,8%) foram registradas em São Paulo (25,2%), Salvador (23,9%) e Recife (14,1%).
Recife, por sinal, foi a região metropolitana com a mais alta taxa de pobreza em junho de 2009 (51,1%). Na outra ponta, está Porto Alegre, com a menor taxa (25,7%).
No conjunto das regiões analisadas, a taxa de pobreza caiu 2,8%, passando de 31,9% para 31%, na comparação entre outubro de 2007 a junho de 2008 e outubro de 2008 a junho de 2009.
A maior queda ocorreu na região metropolitana de São Paulo (-3,9%), e a menor, na do Rio de Janeiro (-1,3%).Recife teve queda de 1,9%, Salvador e Porto Alegre, de 3,3%, e Belo Horizonte, de 3,5%.
Segundo o Ipea, as trajetórias convergentes de redução da desigualdade também não foram interrompidas nesse período, para o conjunto das seis regiões metropolitanas antes e durante a crise internacional.
Se for feita uma comparação da média da desigualdade no período de outubro de 2007 a junho de 2008 com o de outubro de 2008 a junho de 2009, o índice de Gini (que mede o grau de distribuição da renda) apresentou queda de 0,4%, passando de 0,5044 para 0,5026.
O índice é adotado pelo Ipea e varia de zero a 1, indicando maior desigualdade à medida que o valor se aproxima de 1.
Em junho de 2009, o índice de Gini ficou em 0,493, com o menor patamar nas seis regiões metropolitanas. Entre janeiro (0,514) e junho de 2009, o índice de Gini caiu 4,1%, a mais alta queda registrada desde o ano de 2002.
Se o período analisado for de março de 2002 (0,534) até junho de 2009, a queda foi de 7,6%. Se for considerado o mês de mais alta medida de desigualdade, que foi dezembro de 2002 (0,545), a queda do índice até junho de 2009 foi de 9,5%.
Fonte: Agência Brasil
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