Luciano Dídimo[i]
Você, servidor público, já parou para refletir qual é a imagem que você tem perante a sociedade? Você já percebeu que muitas pessoas o vê de forma caricata com o estereótipo de que é folgado, malandro, corrupto, ganha bem e não pode ser demitido?
Antes de procurar saber o motivo pelo qual o servidor público muitas vezes é visto de forma negativa, seria interessante que nos perguntássemos qual é a imagem que temos de nós mesmos.
Se analisarmos um pouco, constataremos que na verdade temos uma baixa autoestima com relação a ser servidor público. Obviamente temos nossas razões para isso, já que nos sentimos injustiçados, desvalorizados, achamos que ganhamos pouco, que estamos sobrecarregados, sentimos que nossas reivindicações não são atendidas, que nossas ideias não são aceitas e que nossos direitos não são respeitados.
Sim, de fato há verdade em tudo isso, mas se o próprio servidor público não se valorizar, como pode esperar que a sociedade o valorize?
Em primeiro lugar precisamos nos lembrar de que somos concursados, ou seja, passamos em um processo seletivo dificílimo e concorridíssimo, e por causa de nossos próprios esforços e méritos, ocupamos hoje um cargo que é bastante cobiçado na própria sociedade que nos critica.
Nosso salário não é o que merecemos, tivemos muitas perdas nos últimos anos, mas ainda assim, não é de se desprezar, principalmente se compararmos a funções semelhantes na iniciativa privada, logicamente sem generalizar. Nunca seremos ricos, mas podemos contar pontualmente com aquele valor a cada mês, sem risco de demissão, o que não deixa de ser uma tranquilidade.
Se achamos que não somos ouvidos, que nossos direitos são violados, que nossas condições de trabalho são ruins, imagine só o que não acha a classe trabalhadora do comércio, da indústria, os que trabalham na informalidade e pior ainda, os que estão desempregados?
Não estou querendo aqui dizer que não devamos lutar constantemente por salários mais justos e por melhores condições de trabalho, Pelo contrário, devemos lutar sempre e com muita coragem! Devemos estar unidos como categoria, construindo e fortalecendo nosso sindicato, para que juntos tenhamos mais representatividade e consequentemente mais força!
O que estou querendo dizer é que não precisamos esperar tudo fique melhor, que tudo fique perfeito, para que só então possamos dar o melhor de nós mesmos. Se o Brasil hoje vai às ruas reclamar por serviços públicos de qualidade e nós, como cidadãos, também ansiamos por isso, devemos tomar consciência de que nós, como servidores públicos, somos responsáveis pela qualidade dessa prestação ao contribuinte.
Às vezes o que parece ser óbvio para alguns, para muitas pessoas não é. Precisamos de uma mudança de mentalidade para entendermos que nosso principal objetivo deve ser a excelência no cumprimento dos deveres, atribuições e tarefas para as quais somos pagos para executar.
Não precisamos esperar pelos cursos de capacitação e treinamento para nos interessar em aprender, para procurar nos aperfeiçoarmos, para buscar alternativas de otimização das nossas tarefas.
Não precisamos esperar um aumento de salário para atender bem ao público, para tratar o cidadão com respeito e cordialidade, para dar uma informação precisa, para tentar solucionar um problema, para esclarecer uma dúvida.
Não precisamos esperar que o quadro de funcionários do setor esteja completo para que possamos cumprir nossa jornada de trabalho com dedicação, com compromisso, tentando evitar ausências desnecessárias, tentando não utilizar o horário de trabalho para resolver assuntos pessoais.
Não precisamos esperar que tenhamos as melhores máquinas e equipamentos para que passemos a trabalhar com zelo pelo patrimônio público, sem desperdício de material.
Não precisamos esperar a honestidade de todos os governantes e políticos para que comecemos a agir com ética, com transparência, com eficiência, com responsabilidade.
Enfim, para que possamos mudar a imagem que a sociedade tem do servidor público, devemos primeiramente mudar a imagem que temos de nós mesmos, não de forma utópica, mas com ações concretas que reflitam positivamente na sociedade.
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