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O empresariado brasileiro mostra que não tem escrúpulos quando o assunto é tirar proveito da atual crise econômica financeira. Depois que o presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, cantou a bola, agora é a vez da A Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop) sugerir que a flexibilização dos direitos trabalhistas para supostamente “evitar demissões em 2009”. Conforme o presidente da entidade, Nabil Sahyoun, os empresários vão buscar um diálogo com o governo neste sentido a partir de janeiro. “É preciso que as flexibilizações durem por, no mínimo, um ano, e não apenas três meses”, disse.
Segundo Sahyoun, o setor está evitando demissões até o final deste ano para avaliar melhor as perspectivas para 2009, e as decisões ficarão para janeiro. “Quem mais gera emprego no Brasil é o varejo e o setor de serviços. O governo tem feito muito pouco para ajudar estas empresas”, disse.
Mas parece que a crise ainda não atingiu o setor como quer fazer crer seus dirigentes. Mesmo em plena crise internacional, o setor de shoppings prevê a inauguração de 23 novos empreendimentos em 2009. Segundo o presidente da Alshop, todos estes empreendimentos já tiveram sua construção iniciada durante 2008, o que garante que eles serão concluídos.
“Sai mais caro interromper as obras do que concluí-las com agilidade”, disse. O executivo destacou que não faltarão lojistas interessados em participar destes shoppings porque é uma maneira de aumentar a participação de mercado. Ele afirmou que, com os novos empreendimentos, o número de shoppings no Brasil no final de 2009 chegará a 689.
Sahyoun disse que algumas empresas terão dificuldades em obter crédito para os futuros empreendimentos, mas que isso será suprido por bancos nacionais ou eventuais parcerias com empresas estrangeiras. Ele afirmou ainda que algumas empresas que captaram recursos na Bovespa estão em boa situação de caixa e poderão utilizar estes recursos em novos projetos.
Para os próximos dois anos, estão previstos investimentos de R$ 8,3 bilhões no setor, mas o executivo admitiu que eles vão variar de acordo com as condições da economia. “É possível que alguns projetos que ainda estão na fase das discussões iniciais não saiam do papel”, disse. Segundo ele, a crise levará ao fechamento de muitas lojas, enquanto outras vão aproveitar o momento para crescer e investir. “É natural viver altos e baixos”, disse. Na dúvida sobre se o próximo período será de alta ou baixa demanda, os empresários já querem garantir seus lucros a custa da redução dos direitos trabalhistas.
Centrais repudiam proposta
Em meados de dezembro, quando veio à tona as sugestões do presidente da Vale de flexibilização das leis trabalhistas, as centrais sindicais foram unânimes em repudiar a proposta.
Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique da Silva Santos, o momento é de garantir o emprego. Ele diz que parte dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador vai para o BNDES. “Esse dinheiro beneficia tanto a Vale quanto outras empresas e, por isso, elas deveriam diminuir os lucros e manter os empregos”.
Santos disse, na ocasião, que os sindicatos ligados à CUT estão orientados a fazer mobilização e greve em caso de propostas de suspensão de contrato de trabalho e redução de jornada e de salário.
O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT/SP), o Paulinho, criticou a idéia de mudança temporária nas leis trabalhistas. “Essa medida pode se tornar definitiva depois da crise, por isso não podemos mexer nas garantias dos trabalhadores”, diz. Paulinho admite a possibilidade de utilização dos instrumentos previstos na lei para garantir os empregos. “A suspensão do contrato e a redução de jornada com redução do salário devem se tornar mais freqüentes no ano que vem, com o agravamento da crise.”
A Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) condena toda mudança nas leis trabalhistas. “A choradeira dos empresários não tem nenhuma justificativa. Eles lucraram muito e agora querem descontar nas costas dos trabalhadores no primeiro momento de dificuldade”, diz o coordenador da entidade, José Maria de Almeida.
Fonte: Vermelho
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