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O poeta Carlos Drummond de Andrade encerra o seu belo poema Mãos dadas dizendo que o tempo é a minha matéria/ o tempo presente/ Os homens presentes/ A vida presente. E começa advertindo que não será o poeta de um mundo caduco. Os poetas, assim como todos os homens, são feitos de tempo, sua matéria original, o tempo presente e o tempo futuro – e o passado seria apenas uma espécie de saudade remediada do futuro que some à distância.
Se alguém hoje aos 70 anos olhar para trás, verá, com certeza, o brilho vigoroso das mãos que construíram este presente e que apontam para o futuro com mais esperança; pois nada disso haveria sem o seu gesto de dedicação, seu suor, seu sangue; quantas vezes já disseram que nada será como antes! Sem sequer haver a preocupação com a importância das águas que correram sob a ponte que liga o ontem e o hoje!
Passado e futuro: duas faces de uma mesma questão, de um mesmo sonho de trabalho, sabedoria e luta por um mundo melhor. Passado, este salto imprescindível para o futuro que só poderia ser engendrado por gerações de ontem que preparam o caminho para as gerações vindouras!
Sim, no dia 24 de janeiro é celebrado no Brasil o Dia Nacional do Aposentado. A data foi instituída pela Lei 6.926, de 30 de junho de 1981 em razão de ser lembrado neste mesmo dia o marco da Previdência Social, que começou a existir como instituição em 24 de janeiro de 1923.
Mas não há muito que comemorar, mas sim para se refletir sobre a existência, o País, o homem, a construção do presente e do futuro. Não deve haver uma só memória viva na atualidade que negue o papel de fundamental importância exercido por esta categoria de trabalhadores para que as s de confiança em um país mais justo fossem trilhadas a partir de ontem; não de hoje, porque hoje, assim como ontem é apenas uma instância temporal da construção do futuro sobre o qual todos falam e querem que seja o de uma vida melhor.
Se é verdade que a maioria da sociedade reconhece a presença do aposentado como símbolo de experiência, sabedoria, ética, trabalho e suor, há também uma boa parte desta mesma sociedade que torce o nariz para o aposentado, e que sempre associa a figura de quem pendura as chuteiras, joga a toalha ou sai de campo, à imagem do ócio e do desperdício.
Sim. Isto é verdade, sim. Houve até presidente da República, recentemente, que xingou o aposentado, desprezou sua trajetória de luta por um país e uma vida melhor para os jovens que estão aí, que estiveram e que vão estar sempre nesta corrida de revezamento pela consolidação das bases de uma sociedade mais justa, mais participativa, mais unida e mais sábia.
É verdade. A classe não tem muito o que comemorar.
A classe é feita de pessoas que trabalharam a vida inteira e que não são valorizadas pela sociedade, pelas instituições criadas, ironicamente, para cuidar do bem-estar desta categoria, pelo próprio governo.
Sim, a classe muitas vezes não recebe o devido respeito na rua, em casa, no trabalho, nas esquinas de um futuro que some à distância e que só poderá ser alcançado com a experiência do passado.
Parabéns, aposentados de todo o Brasil! Como diria o Poeta de Itabira:
[…] Estou preso à vida e olho meus companheiros/
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças […]
Por Carlos Tavares, jornalista da Fenajufe
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