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35 ANOS NO TRT7
Luciano Dídimo
Hoje completo 35 anos de serviço no Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região. Fiz o primeiro concurso público realizado pelo órgão após a promulgação da Constituição de 1988.
Foi o meu primeiro e único emprego, onde permaneço até hoje. 35 anos, pode-se dizer, é uma vida. Foram muitos aprendizados e inúmeras experiências, tanto boas quanto ruins.
Era o ano de 1989. Eu tinha apenas 18 anos de idade e passei em 22º lugar para o cargo de nível médio de Auxiliar em Atividades Judiciárias. O cargo era celetista, uma vez que o Regime Jurídico Único dos servidores públicos só veio a ser instituído através da Lei 8.112, de 11/12/1990. Tomei posse no dia 21 de março de 1990, com meus recém completados 19 anos. Na época, eu era o servidor mais novo de todo o Regional.
Nesse dia, cheguei na Secretaria da então 2ª Junta de Conciliação e Julgamento de Fortaleza e fui recebido pela servidora Jeane de Andrade. O juiz era o símpatico Dr. Wálter Batista Moreno e o diretor era o João César. Processos físicos estavam espalhados por todos os lados, em cima das mesas, nos armários, no chão… Os gaveteiros, com suas bocas abertas, mostravam os inúmeros processos com suas capas amarelas com os nomes das partes datilografados. O balcão era lotado de partes e advogados para serem atendidos. Havia muito barulho de máquinas de escrever, dos carimbos, dos grampeadores e dos perfuradores.
Os advogados entregavam as petições em duas vias no balcão, o servidor atendente precisava carimbar as duas vias, colocar a data, devolver a segunda via para o advogado e passar a primeira via para a Dona Neusa, uma servidora idosa que registrava à mão no livro de protocolo a data, o nome da parte que entrou com a petição e o tipo de petição.
Minha função era procurar os processos para depois juntar as petições. Para isso eu precisava consultar a ficha do processo para saber em qual setor da secretaria o processo se encontrava. Havia um armário-ficheiro com as fichas em cartão pautado colocados em ordem númerica de acordo com o número do processo. Ali eram anotadas as informações do que tinha sido feito no processo e qual seria o passo seguinte. Encontrado o processo, eu perfurava a petição, batia e preenchia o carimbo de juntada no verso da folha anterior, prendia a petição com os colchetes bailarina, batia o carimbo de “em branco” e o carimbo “da folha” e depois numerava e rubricava cada folha da petição. Acrescentava uma folha em branco com um carimbo de conclusão e depois guardava os autos na prateleira de processos “conclusos para despacho”.
Luciano, Amélia e Eliene
O problema era que muitas vezes as fichas eram perdidas, pois na pressa, colocavam fora da ordem numérica. Ou então, achava-se a ficha mas não se achava o processo. Ou guardava-se o processo sem querer com a ficha dentro. Nesse caso, achava-se o processo e perdia-se a ficha. Precisavam ser feitos constantes multirões para que todos parassem e fossem procurar os processos perdidos, que às vezes tinham caído por trás dos armários ou ficavam presos no fundo dos gaveteiros. Não era fácil. Eu chegava em casa todo dolorido de tanto me abaixar e de levantar as pilhas de processos.
A equipe da 2ª Junta era maravilhosa. Além dos já citados, faziam parte Heraldo Benevides, Joana Angélica, Erismar Pinheiro, Euvaldo Gomes, Aldenê Furtado e Cynthia Moreno, entre outros.
7a Vara: Alcione Pontes, Luciano Dídimo, Eliene Varela, Rogéria
e Ana Maria Martins (sentada)
Passados apenas dois meses, fui transferido para a recém inaugurada 7ª Junta de Conciliação e Julgamento, onde permaneci por 14 anos. Nesse tempo foram juízes presidentes o Dr. José Teles Monteiro, Dra. Maria Sampaio Leite e Dr. Jefferson Quesado Júnior e a Diretora de Secretaria era Maria d’Assunção Xavier Oliveira.
7ª Vara: ao fundo Claudionora, Antônio Teófilo, Fernando Rossas, Paulo de Tarso e Fabíola;
no meio: Eliene Varela, Clauderle, Rosângela, Luciano, Assunção, Rogéria, Giuseppina,
Alcione, Karina, Ana Maria Martins e Carmen Arruda. Ao centro, sentado: Jefferson Quesado Júnior.
No início dos anos 90 os tribunais ainda estavam repletos de cargos ocupados por parentes e apadrinhados dos desembargadores e políticos. Nós, os concursados, éramos a minoria e por isso, éramos discriminados, pois estávamos ali para “roubar” os cargos que antes eram ocupados através dos então chamados “trens da alegria” (sem concurso público).
Apesar da obrigatoriedade do concurso público para provimento dos cargos efetivos a partir da Constituição de 1988, o mesmo não se deu com as funções gratificadas e com os cargos em comissão, que continuaram sendo ocupados, em sua maioria, pelos parentes e apadrinhados dos juízes e desembargadores, que muitas vezes não possuíam a capacidade ou a habilitdade necessária para exercê-los, com algumas exceções. Somente com a edição da Resolução n° 7 do Conselho Nacional de Justiça em 18 de outubro de 2005, a prática do nepotismo foi banida do Poder Judiciário brasileiro.
Neste Tribunal, já vivi de tudo. Já fui perseguido, explorado, assediado e humilhado, mas também já fui elogiado, enaltecido, reconhecido e valorizado. Trabalhei com todo tipo de gente: competentes, incompetentes, doidos, normais, inteligentes, burros, preguiçosos, hiperativos, vaidosos, humildes, sérios, engraçados, confiantes e inseguros. Os mais difíceis de trabalhar são os inseguros, principalmente quando são diretores ou juízes.
Em abril de 1996, após passar em 4º lugar em novo concurso público, tomei posse no cargo de nível superior de Técnico Judidiciário, posteriormente renomeado para Analista Judiciário, permanecendo lotado onde já estava.
A Emenda Constitucional nº 24, de 9 de dezembro de 1999, transformou as Juntas de Conciliação e Julgamento em Varas do Trabalho, extinguindo os juízes classistas.
No ano de 2004, pedi transferência para a 5ª Vara do Trabalho de Fortaleza, cujo juiz titular na época era o Dr. Francisco Tarcísio Lima Verde Júnior e a diretora era Nágila Nogueira Gomes. Passei lá um ano e meio, até a transferência do Dr. Tarcísio para a Vara do Trabalho de Caucaia. Foi quando o Dr. Antônio Teófilo Filho veio da Vara de Limoeiro assumir a titularidade da 12ª Vara do Trabalho de Fortaleza e me convidou para ser seu assistente.
5ª Vara: Filipe Bernardo, Luciano Dídimo e Antônia de Maria
Na 12ª Vara, passei 8 felizes anos, tendo como diretora Ana Cláudia Arcoverde de Moura, até que o Dr. Francisco Antônio da Silva Fortuna, quando foi se titularizar, convidou-me para ser seu Diretor de Secretaria, cargo no qual tomei posse em 15 de outubro de 2012. Tivemos passagens rápidas pela Vara de Iguatu e 1a Vara de Maracanaú, chegando então à 7ª Vara (de volta) no dia 1º de março de 2013.
12ª Vara: Antônio Teófilo, Carlos, Cláudia, Simone Fontenele, Izaías, Roberta Correa,
Isabele, Juliana, Ana Cristina Pedrosa, Luciano Dídimo, Lívia, Ana Cláudia, Zeneide,
Guilherme Camurça (ao fundo) e Mara Rúbia.
Após 11 anos como Diretor da 7ª Vara, Dr. Fortuna pediu transferência para a 16ª Vara do Trabalho de Fortaleza, onde chegamos no dia 07 de março de 2024 e permanecemos até hoje.
7a Vara – ao fundo: Filipe Bernardo, Laeson, Luciano , Tenisson e Jean Fábio;
ao meio: Miliana, Kliciony, Roberto, Antônia de Maria, Adai, Giuseppina, Eurico
e Francisco Fortuna; à frente: José Santos de Freitas Júnior.
16ª Vara: Paulinho, Tiago dos Anjos, Francisco Fortuna, Marina Mota, Ana Paula Figueiredo,
Luciano Dídimo, Carla Adriana, Manu (sentada), Ian Nícolas (ao fundo), Nazareno, Henrique,
Raimundo, Gladon Neto e José Cavalcante (à frente)
Mas a minha revolta é que hoje, após 35 anos de dedicação ao serviço público, eu deveria estar adquirindo o direito à aposentadoria. Era o que constava na Constituição Federali quando fiz o concurso, 35 anos de serviço para o homem e 30 anos para a mulher. Era essa a minha expectativa quando entrei. Mas as regras foram alteradas e sem o meu consentimento.
Greve em 2010
Só nos últimos 30 anos, foram pelo menos sete reformas que afetaram a aposentadoria do servidor público, foram sete emendas constitucionais: em 1993 (EC nº 3 – Itamar Franco), em 1998 (EC nº 20 – Fernando Henrique Cardoso) em 2003 (EC nº41 – Lula), em 2005 (EC nº47 – Lula), 2012 (EC nº70 – Dilma), 2015 (EC nº88) e a última em 2019 (EC nº103 – Bolsonaro).
Hoje tenho 54 anos e não tenho a idade mínima para me aposentar. Vou ter que trabalhar “de graça” por pelo menos mais um 6 anos, se não vier outra reforma. Não que eu fosse me aposentar agora, mas gostaria de, pelo menos, ter o direito.
Além das reformas previdenciárias, infelizmente houve diversas outras reformas administraivas e todas elas, obviamente, só prejudicaram e retiraram direitos dos servidores públicos, a exemplo da licença-prêmio, anuênios, incorporação de funções, etc.
O nosso sindicato, o Sindissétima, foi criado em 08/02/1990, a partir da antiga associação ASSÉTIMA. Portanto, tendo eu ingressado em março/1990, já me sindicalizei desde o primeiro mês e tenho permanecido sindicalizado durante esses 35 anos, pois entendo que é ele o legítimo representante da nossa categoria, sempre defendendo os servidores e promovendo a luta pela defesa e pela conquista de direitos, tendo sido, inclusive, seu Diretor de Comunicação de 2016 a 2023, em quatro gestões do presidente Charles Bruxel.
Posse do Sindíssétima em 2022: Euvaldo Gomes, Alexandre Coe, Marcus Rógenes,
Charles Bruxel e Luciano Dídimo
Desde o ano de 2019 venho organizando anualmente a coletânea de escritos literários “Odisseias Literárias” em nosso Regional, parceria do Instituto Horácio Dídimo com o Sindissétima, reunindo contos, crônicas e poemas dos servidores, magistrados, estagiários e terceirizados do TRT7.
Lançamento da coletânea Odisseias Literárias VI em novembro/2024
Passados esses 35 anos, o que tenho a dizer é que tenho orgulho de ser servidor público e aqui sou feliz e realizado. Gosto do que faço e tenho a consciência limpa de que sempre trabalhei de forma digna e honesta, contribuindo da melhor forma que posso para a boa prestação do serviço ao jurisdicionado.
Só peço agora que me desejem uma feliz “não aposentadoria"!
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Luciano Dídimo Camurça Vieira nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 22 de fevereiro de 1971. Filho de Horácio Dídimo Pereira Barbosa Vieira e Maria Evendina Camurça Vieira. É casado com Ruth Leite Vieira desde 03 de julho de 1993, com quem tem cinco filhos. É poeta e escritor.
Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual do Ceará e em Direito pela Universidade de Fortaleza. Pós-graduado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela UNIDERP.
É servidor público federal no cargo de Analista Judiciário do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região e Diretor de Secretaria da 16ª Vara do Trabalho de Fortaleza.
É membro da Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares; membro da Academia Brasileira de Hagiologia (ABRHAGI), membro fundador e Vice-presidente da Academia Brasileira de Sonetistas (ABRASSO); É Presidente do Instituto Horácio Dídimo de Arte, Cultura e Espiritualidade (IHD); membro das seguintes associações literárias: Academia de Ciências, Letras, Artes e Ofícios de Pindoretama (ACLAP); Academia de Letras dos Municípios Cearenses (ALMECE); Academia Fortalezense de Letras (AFL) e Associação Nacional de Escritores (ANE).
É autor dos livros de poemas “A Rosa da Certeza” (2016), "A Rosa Marrom" (2020), “A Rosa Verde – Sonetos de Esperança” (2021) e “A Rosa de Pérola – Sonetos Preciosos” (2023), bem como organizador de diversas coletâneas literárias.
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Comentários
Parabéns, Luciano. História belíssima. Conheço uma boa parte dela, porque vivi coisas parecidas e também por ter trabalhado contigo na 7ª Vara. Você realmente merece tudo que conquistou aqui na Justiça do Trabalho e as coisas ruins ficaram para trás, graças a Deus. Agora, continuar trabalhando que no dia e hora certa, Deus vai te abençoar com a sua merecida aposentadoria. Grande abraço, meu amigo.
Obrigado, meu caro amigo Adail! Se Deus quiser!
Show.
Parabéns pela gloriosa carreira e por essa vida dedicada ao serviço publico com presteza e honradez. Parabéns.
Obrigado, Lindon Johnson, grande abraço!
Passou um filme, muito legal 👏🏻👏🏻
Trabalhar com Luciano foi um prazer e uma alegria
Deus abençoe sua família e seu trabalho 🙏🏻
Obrigado, Eliene! Você faz parte dessa história!
Prezado,
Feliz não aposentadoria! Que você ganhe ânimo novo, cônscio de sua missão de bem servir ao público, temeroso que é ao Nosso Deus Pai! sabendo bem que servimos antes a um Deus vivo e nessa fé prosseguimos “para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. Seus filhos eleitos, pacificadores, abençoadores.
Parabéns! pela exemplar trajetória que nos traz orgulho de participar da mesma caminhada na carreira pública e na fé em Deus!
“Graças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos conduz em triunfo…” (2 Coríntios 2:14)
Obrigado por suas palavras, caríssima colega!
Querido Luciano, primeiramente parabéns pela sua belíssima trajetória como servidor público exemplar, que sempre foi.
Senti-me muito bem representada nas descrições que você fez neste texto tão bem escrito, especialmente quando você diz: “neste Tribunal já vivi de tudo”. Só quem viveu tudo isso consegue entender.
Minha admiração por você é grande: como pessoa, católico, servidor, poeta, escritor… E aproveito esse momento para desejar que Deus continue abençoando a sua vida, e lhe conceda uma excelente aposentadoria.
Grande abraço de parabéns!!
Grato por suas palavras! Grande abraço!
Caro amigo Luciano,
Primeiramente, como é uma escolha legítima sua, te desejo uma feliz não aposentadoria, a despeito de estar muito feliz com a minha …rs.
Quero dizer que me deixei levar por doces lembranças com seus relatos. Me reconheci em muitas das situações neles expostas. Também sou muito grata a Deus pela missão de servidora pública, que tanto nos honra.
Parabéns pela trajetória!!
Abraço.
Foi uma honra fazer parte de sua história.
Aprendi muito com você e tenho um profundo respeito pelo profissional, colega de trabalho e amigo.
Parabéns Luciano por todas suas conquistas!
Um grande abraço.
Que linda trajetória, Luciano!
É revoltante o desmonte do serviço público, mas nós somos resistência e você vem mostrando isso na sua caminhada de servidor público. Parabéns e ela virá,
“ Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranquilo e infalível como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá“
👏👏👏 Parabéns pela belíssima trajetória, meu amigo!
Feliz “Não Aposentaforia”, Didimo!!! Parabéns por uma história tão linda de dedicação ao serviço público!